quinta-feira, 29 de março de 2012

Millôr Fernandes

(1924-2012)

Morre, no dia 27 de Março de 2012 um ilustre brasileiro, carioca, nascido no Méier( Rio de Janeiro),  que foi ( e é, pois as obras ficam, elas não morrem ) dramaturgo, poeta, escritor, jornalista e cartunista... sociólogo amador ( segundo ele mesmo ), observador  de pessoas fino e inteligente, enfrentou a ditadura com muito bom humor, jogando Pif-Paf ( tablóide de humor ) com palavras e charges inteligentes, aliviando enfim, a dita dureza da época...  Sua vasta obra atesta, por si só a genialidade de Millôr. Deixou um site, onde tem muito de si e de sua obra.
Já faz falta, Mestre... fiquei  triste.
POESIA MATEMÁTICA (Millôr Fernandes)

Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...

Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.

Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.

Até que se encontraram
No Infinito.

"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.

"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode chamar-me Hipotenusa."

E de falarem descobriram que eram
- O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs -
Primos-entre-si.

E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.

Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Retas, curvas, círculos e linhas sinoidais.

Escandalizaram os ortodoxos
Das fórmulas euclideanas
E os exegetas do Universo Finito.

Romperam convenções newtonianas
E pitagóricas.
E, enfim, resolveram casar-se.

Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.

Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissetriz.

E fizeram planos, equações e
Diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.

E casaram-se e tiveram
Uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.

E foram felizes
Até àquele dia
Em que tudo, afinal,
Se torna monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...

Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.

Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo.
Uma Unidade.

Era o Triângulo,
Chamado amoroso.
E desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu a
Relatividade.
E tudo que era expúrio passou a ser
Moralidade

Como aliás, em qualquer
Sociedade.

terça-feira, 27 de março de 2012

Desabafo acerca do plágio

Quem está na teia sabe: nunca houve na história humana a oportunidade de expressar pensamentos como na atual era digital. Pessoas que nunca tiveram ( como eu )  chance de manifestar seus pensamentos, que é o que nos torna únicos e especiais.
Unicidade humana...  o que é isso? Simplesmente não existe ninguém igual. Eu sou única, e você também. Sou  um produto que passou ( e passa ) pela linha de montagem da vida recebendo  seus  componentes ( caráter ,  cultura , inteligência , compaixão , tristeza , decepção , entre outros ) , fazendo-me então, mais um produto unigênito na multidão humana.

O plagiário lembra aquela irmã mais nova, sem personalidade, que imita suas irmãs mais velhas no modo de vestir, se apaixonando por seus namorados , e , imaginem só , copiando até a forma delas falarem, pois a irmã mais nova não tem mesmo nada a dizer...
Prefiro crer que o imitador seja a irmã mais nova em busca de identidade. Não quero crer que o copiador não tenha nenhum talento, criatividade, dom. E, por isso, imita quem admira. Seria isso inveja? Há espaço para todos...
Escrevo do que sei , e entendo do que escrevo...  O Baiano Imortal Jorge Amado , por exemplo , não escreveu só D.Flor e seus dois maridos , deixou sua marca até na literatura infantil ( tem quem diga que ele, como todos os que escreveram para crianças queriam camuflar críticas. Estórias infantis não são um jeito das crianças entenderem o mundo adulto?).
Não copio pensamentos dos outros , "minha cabeça " já é feita , e quando encontrei o "povo da internet" (  que em sua grande maioria é do bem ) dizendo que aqui é um lugar de qualidade , fico emocionada , mesmo ( sou emotiva demais ).
Ah , leio/tenho mesmo todos os livros que comento, por isso faço questão de colocar trechos que em sua maioria não estão na web...
E o problema não é de hoje...
Viena, 1931: carta a um plagiario
Prezado Senhor,
Foi surpresa verificar que resolveu publicar a minha humilde estória, "O imperador José e a Prostituta", tal como a escrevi, com o acréscimo das três palavras: "Por Anton Kuh" , na publicação Querschnitt. Honra-me sem dúvida o fato de sua escolha ter recaído na minha estorinha, quando toda a literatura mundial desde
Homero se encontrava à sua disposição. Teria gostado de retribuir na mesma moeda, mas depois de examinar toda a sua obra, não encontrei nada que tivesse vontade de subscrever. (ass) Egon Friedell.

quarta-feira, 21 de março de 2012

O Rei de Ferro


O REI DE FERRO

" Os dois condenados que tinha sob os olhos deixavam de ser abstrações políticas. O fato de terem sido declarados prejudiciais à ordem pública não impedia que fossem criaturas de carne, de pensamento, de desejo e de dor, como todos, como ele próprio. " No lugar deles, seria eu capaz de idêntica coragem?". O Rei de Ferro, Maurice Druon.

Um romance histórico, situado na Idade Média. Narra o reinado  de Filipe IV, o Belo, e sua cobiça pelas riquezas e pelo poder dos templários, ordem militar-religiosa, ligada pelos votos de pobreza, castidade e obediência  e pelo voto muito distinto de defender com armas e proteger os peregrinos que iam à Jerusalém.

 A Ordem, inicialmente humilde, prosperou depois que São Bernardo de Claraval a apoiou , escrevendo a sua regra: ""Non nobis Domine, non nobis, sed nomine Tuo da gloriam", que significa, "Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao Vosso nome dai a glória." Todos os rapazes medievais ansiavam entrar na Ordem, até mesmo Francisco de Assis desejou entrar na Ordem.  

Há quem diga que eles( Templários) anelavam encontrar as Tábuas da Lei, que se encontrariam dentro da Arca da Aliança... Tendo isto em consideração, não é difícil de perceber  o braço forte da Igreja amparando e protegendo a Ordem. E o por quê.

" Certas pessoas sonham sempre com viagens e aventuras para se dar, aos olhos dos outros e aos seus próprios, colorido de heróis. Depois, quando estão dentro dos fatos e surge um perigo, começam a pensar: " Que tolice me levou a fazer isto, e que necessidade tinha eu de me meter onde estou?". O Rei de Ferro, Maurice Druon

É fato que Felipe, o Belo, perseguiu os Templários franceses, e queimando na fogueira o grão-mestre da Ordem, Tiago de Molay. Também é fato de que devia dinheiro à Ordem. Mas, tembém é sabido que ele tentou de várias formas ser um Templário. Seria por desejo de poder, de riquezas, ou pelo seu caráter rígido e justo (diziam que ele raramente sorria, não piscava os olhos, e quando morreu, não os fechou, sendo sepultado com uma venda por cima dos mesmos)que ele ambicionava ser um grão-mestre templário?. Divagações, divagações...

Este livro é apaixonante, repleto de intrigas mortais, invejas ,traições e paixões sombrias. Se o livro fosse uma pintura, diria que seria um Goya. Acho que vou parar por aqui, para não revelar o enredo deste romance.

Depois de Alexandre Dumas( um ícone do gênero, em minha opinião), Maurice Druon também com maestria consegue narrar em romance uma história que aconteceu.
" Apanhou sobre a mesa um faisão frio, que cortou em dois com as mão e que se pôs a morder." O Rei de Ferro, Maurice Druon
Faisão marinado em cerveja (ao estilo medieval)
Ingredientes
1 faisão limpo
70g de aipo rábano
200g de cebola picada
1 colher de sopa de zimbro
10 folhas de louro
1 litro de cerveja rústica
1 colher de sopa de sal
200g de banha de porco
2 pães italianos bem rústicos
Modo de preparo:
Junte ao faisão, o aipo rábano, a cebola, o zimbro, o louro, a cerveja e o sal . Deixe marinar por no mínimo, 24 horas na geladeira, sendo o ideal 72 duas horas. Retire a marinada e seque bem o faisão. Reserve a marinada. Cubra o faisão com a banha e leve ao forno(160°)até começar a dourar.  Regue o faisão com a marinada. Continue regando a ave com a marinada e a gordura derretida até assar por completo. Sirva a carne quente ou morna, acompanhada de pão rústico(para passar no molho que se formou na assadeira).
*Receita elaborada pelo chef Alessandro Nicola e preparada por Lucas Medina, do centro univ. Senac, em São Paulo.

sexta-feira, 9 de março de 2012

O RETRATO DE DORIAN GRAY

"... hoje, cada qual sabe o preço de tudo e ninguém sabe o valor de coisa alguma." O retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde
Oscar Wilde foi um homem de frases geniais.  Escrevia poemas, e teve com peças teatrais que escrevia, enorme sucesso (sim, ele era dramaturgo), além de também ser escritor. Uma vez indagado sobre o por quê de não escrever mais livros, ele disse que "preferia ler o dos outros"....  Viveu no final da Era Vitoriana, e foi então um fator decisivo para que fosse para a prisão o homem que "era o amor que não ousa dizer o seu nome". Prolífico, não deixou de escrever na prisão, e continuou sendo o escritor contraditório, genial, ácido, carregado de ironia e cinismo até o fim.
" A cultura ou a corrupção... - repetiu Dorian. - Conheci-as um pouco. Acho inconcebível agora a aproximação dessas duas palavras." O retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde
Este romance é repleto de frases interessantes, e , toda a vez que leio o mesmo, me sinto uma criança na loja de doces, que não sabe o que vai escolher (meu exemplar é todo sublinhado e repleto de observações). Li O Retrato de Dorian Gray na adolescência, mas só o compreendi em sua essência na fase adulta... Cheguei a imaginar que o livro seria um tipo de autobiografia romanceada...Como já disse um escritor(do qual não lembro o nome agora), " na juventude aprendemos, e na fase adulta, compreendemos"... A arte, que tenta preservar o que é belo, e , ao mesmo tempo corrompê-la, pois a vaidade está lá...( a arte foi então Nêmesis da beleza?). Um jovem corrompido por má influência, ou somente esperava um mentor em sua existência? Até que ponto podem nos influenciar, para o bem e para o mal? Livro maravilhoso, indispensável, que li e reli... Em minha tosca opinião, o Melhor da Literatura Inglesa para o mundo.
"...respondeu Lorde Henry, tomando um pedaço de codorna." O retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde
Codorna Assada
(Era Vitoriana)
"...Se você deseja servir a sua codorna à moda inglesa, prenda o pescoço sob a asa. Espete as pernas de modo que fiquem eretas. Esfregue cada codorna com uma pitada generosa de pimenta branca, um quarto de uma colher de chá de sal, uma colher de chá de suco de limão e uma colher de chá de manteiga derretida. Pincelar bem o peito da ave com manteiga. Coloque em bandeja untada com manteiga, uma camada de fatias de presunto gordo ou bacon e colocar as codornas sobre estes. Levar ao forno até ficarem douradas e suculentas. Quando pronto, retirar os espetos e, em uma travessa, servi-las rodeadas de agrião, com um cordão de croutons por cima.
Nebraska Pioneer Cookbook - Kay Graber