quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Partidas e chegadas


 
Henry Sobel contou a seguinte parábola:

Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de beleza rara. Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se encontram. Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente exclamará: ”já se foi”. Terá sumido? Evaporado? Não, certamente. Apenas o perdemos de vista. O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha quando estava próximo de nós. Continua tão capaz quanto antes de levar ao ponto de destino  as cargas recebidas. O veleiro não evaporou, apenas não o podemos mais ver. Mas ele continua o mesmo. E talvez, no exato instante em que alguém diz: “ já se foi”, haverá outras vozes, mais além, a afirmar: “ lá vem o veleiro”.

Assim é a morte.

A vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas.

Assim, o que para uns parece ser a partida, para outros é a chegada.

Meu marido consolou-me com esta reflexão, em ocasião do falecimento de minha mãe. Como este espaço tem me ajudado a manter-me equilibrada interiormente, senti, então, a necessidade de postar estas palavras e marcar o dia de hoje, no que eu considero meu diário público.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Grande Sertão: veredas


 
“O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando.” (Grande sertão: veredas, Guimarães Rosa)

Mas, na ocasião, me lembrei dum conselho de Zé Bebelo, na Nhanva, um dia me tinha dado. Que era: que a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar de ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o sentir da gente.” (Grande sertão: veredas, Guimarães Rosa)

O leitor que superar as páginas iniciais deste livro (acostumar-se com o estilo do autor e a linguagem usada, difíceis em minha opinião), irá deparar-se com um belíssimo romance escrito por João Guimarães Rosa. Riobaldo, um fazendeiro que no passado foi um jagunço, conta a um forasteiro a sua estória, dos tempos em que roubava, matava e fugia da polícia. Achava que tinha um pacto com o diabo, e que um dia, haveria de encontrá-lo. Sua vida muda, quando conhece Diadorim, um jagunço cujos olhos verdes o abrasavam, sem ele saber porquê. Riobaldo era um homem valente, que só temia encontrar-se com o diabo. Quando criança, matou um homem que tentava violentar outro menino, Diadorim. Adultos, se encontram novamente. Sente-se irremediavelmente atraído por Diadorim, queria tocá-lo, cheirá-lo, mas rejeitava asperamente estes sentimentos. Surge, então, um dilema: estaria apaixonado por Diadorim? O tormento de Riobaldo somente chega ao fim com a morte de Diadorim. Ele sofre com a morte de seu companheiro de aventuras, e seu amor. Mas, ao retirar o gibão que vestia Diadorim, descobre que ele era uma mulher. Que se fazia passar por homem por vingança. Riobaldo sofre, pois poderia ter vivido o seu amor por Diadorim, mas teve medo. Finalizo com uma de suas frases: “A vida da gente vai em erros, como um relato sem pés nem cabeça, por falta de sisudez e alegria. Vida devia de ser como sala do teatro, cada um inteiro fazendo com forte gosto seu papel, desempenho.”

 Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.” (Grande sertão: veredas, Guimarães Rosa)

Este é mais um daqueles livros inesquecíveis... Tanta sabedoria, exposta de um modo cheio de sentimento. Característica maravilhosa dos escritores mineiros, que com simplicidade transmutam verdades em palavras belas... Narrativa emocionante, com muita ação, aventura, e uma estória de amor. Não dá para ficar indiferente com a morte de Diadorim, o desespero de Riobaldo... Bem, espero que tenha deixado à todos com “água na boca”, e muita vontade de ler esta linda obra de João Guimarães Rosa.
 
– e trazia para mim caixetas de doce de buriti ou de araticum, requeijão e marmeladas.  (Grande sertão: veredas, Guimarães Rosa)

Doce pastoso de araticum

Ingredientes: 1 medida de polpa de araticum, 1 medida de açúcar, 1 e meia medida de leite.
 
Modo de Fazer: Passar a poupa por uma peneira e juntar com os outros ingredientes. Levar ao fogo numa panela até ficar pastoso. Retirar do fogo, deixar esfriar e colocar em frascos de boca larga.

Doce de buriti
 
INGREDIENTES: 1 kg de polpa de buriti, 500 g de açúcar, 2 pedaços de pau de canela, 1 colher de sopa rasa de manteiga
 
PREPARO:
Misture a polpa de buriti, o açúcar, a canela e a manteiga.
Leve ao fogo, sempre mexendo, e deixe até que fique com consistência cremosa.