"A certa
altura da vida vim a identificar essa emoção particular com outra — a de
natureza artística. Desde esse momento, posso dizer que havia descoberto o
segredo da poesia, o segredo do meu itinerário em poesia." Itinerário de
Pasárgada, Manoel Bandeira
Meu primeiro contato com Manoel Bandeira foi quando
li o poema Trem de Ferro. Confesso que não gostava de poesia não... Mas, é para
isso que existe a escola/faculdade, pra
nos fazer ler textos, autores e os mais variados gêneros literários, que por
pura preguiça/e ou preconceito ( em meu caso ) nunca seriam lidos. Depois de
Manoel Bandeira, comecei a me apaixonar por poesia, e, nesta minha jornada
pessoal pelo conhecimento, adquiri a mais profunda admiração por aqueles que
sabem manusear as letras de forma poética.
Pois bem,
voltando a falar deste Recifense ilustre, que abandonou os estudos por causa da
tuberculose. O que antes era divertimento, tornou-se uma ocupação: ser poeta.
Mas, quem o lê, sabe que não se lamentava por sua condição, não culpava a
ninguém por sua doença. Escrevia, pois em sua opinião "... a poesia está em tudo -
tanto nos amores quanto nos chinelos, tanto nas coisas lógicas como nas
disparatadas".
Seu mais
famoso poema, Vou-me embora pra Pasárgada, exterioriza o mito de felicidade do
Autor. Lá, ele poderia ser, fazer, desejar; livre de todas as limitações
presentes em sua vida diária.
Sobre o poema disse: “Vou-me
embora pra Pasárgada” foi
o poema de mais longa gestação em toda minha obra. Vi pela primeira vez esse
nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego.
Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas”, suscitou na
minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias. Mais de vinte anos
depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de
fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse
grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!”.
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água.
Pra me contar histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
Lá sou amigo do rei
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
"Uma tarde voltei para
casa seriamente impressionado de ter ouvido, na Livraria José Olympio, Rachel
de Queiroz me dizer: "Você não sabe o que a sua poesia representa para
nós." Foi a força de testemunhos como esse, às vezes de gente quase de
todo alheia à literatura, que principiei a aceitar sem amargura o meu destino.
Hoje na verdade me sinto em paz com ele e pronto para o que der e vier."
Itinerário de Pasárgada, Manoel Bandeira
O livro Itinerário de
Pasárgada é uma narrativa da trajetória de Manoel Bandeira no vasto universo
das letras. Ainda me lembro da pergunta que minha Professora fez, ao terminar
de ler o poema "Vou-me embora pra Pasárgada": "e você, tem uma Pasárgada
pra onde ir?"
"a
regalar-nos com a mesa que nos preparava D. Sara; e será negra ingratidão se um
dia, em nossas reminiscências escritas, não levantarmos um monumento de
glória àquelas peixadas, àquelas galinhas de cabidela, àquelas papas, àqueles bifes de cebolada
com que a paciente senhora nos compensava da imensa pena de existir." Itinerário
de Pasárgada, Manoel Bandeira
Peixada à Baiana
1 kg. de garoupa ou cação,1 maço picado de coentro,1
cebola grande picada,uma pitada de salsinha,sal,cebolinha verde fatiada a gosto,1
limão,2 colheres (sopa) de azeite de dendê,4 tomates,1 vidro de leite de coco
Pirão
caldo do cozimento,farinha de mandioca crua
Modo de
Preparo:
Deixe de molho o peixe nos temperos por no mínimo 40 minutos .
Coloque em uma panela grande, adicione o leite de coco, o azeite de dendê e os
tomates batidos no liquidificador. Cozinhe em fogo brando até o peixe ficar
cozido. Se perceber que o caldo está pouco, adicione mais água. Sirva com arroz
branco e o pirão.
Pirão: retire um pouco do molho que se formou do cozimento da peixada,
coloque numa panela pequena, em fogo brando, e vá adicionando a farinha de
mandioca aos poucos, até a consistência desejada.